CONCEITO, MÉTODO E HIPÓTESE
O conceito
Organicidade (s.f.)
1.Propriedade do que se desenvolve naturalmente.
2.Característica de orgânico, do que se relaciona com órgãos.
A partir de conversas iniciais, escolhemos a palavra Organicidade como conceito por acreditarmos que esta define a essência da urbe. O espaço urbano é composto por vários sistemas diferentes que estão integrados e sofrem constante transformação. Como nada é estático, tudo está num movimento orgânico, sentimos a necessidade de focar nessa dinamicidade, compreendendo as mudanças que ocorrem a fim de propor espaços coerentes que respeitem essa mutabilidade.
O método
Ao discutirmos em grupo surgiram inquietações sobre a história do local e a mudança da dinâmica do bairro ao longo do tempo. Após as visitas de campo no bairro José Mendes, criamos hipóteses e intenções de intervenção no sítio. Para conciliar essas hipóteses com as discussões, sentimos a necessidade de nos aproximarmos da comunidade por meio de entrevistas e análise histórica, a fim de entender a melhor forma de intervir respeitando o caráter do bairro. Portanto, os métodos a serem utilizados inicialmente são análise da evolução e morfologia urbana, entrevistas e então avaliação da nossa hipótese.
A hipótese
Analisando o bairro José Mendes, identificamos uma série de características locais, que se deram ao longo da história de Florianópolis. Atualmente caracteriza-se como um local de passagem alternativo ao eixo baia norte - baia sul pelo túnel. Existem poucos locais públicos de permanência, pouca relação com a natureza, caminhabilidade inadequada, uma grande taxa de ocupação - inclusive em áreas de preservação ambiental, e um grande número de construções abandonadas. Isso tudo prejudica a vivência dos moradores da comunidade, que tem um caráter familiar. Para a habitação, pensamos em módulos espalhados pelo bairro, que respeitem a baixa verticalização existente e se encaixem nos espaços não ocupados. Esses módulos poderiam se adequar a aspectos como diferentes perfis de usuários, a eventual criação serviços e mudanças na configuração das famílias, o que vai de acordo com nosso conceito.


PERCEPÇÕES NO BAIRRO JOSÉ MENDES

Em meio às nossas discussões, surgiu uma série de questionamentos que só poderiam ser respondidos por usuários que experienciam aquele espaço, seja cotidiana ou esporadicamente. Contamos principalmente com relatos de moradores que já habitam o bairro José Mendes há anos, pois eles teriam informações sobre diversos aspectos, como: mudança da dinâmica local, relativa à caminhabilidade, ao movimento de pessoas e meios de transporte e ao crescimento da área; o que poderia ter ocasionado estas mudanças, por exemplo a abertura do Iate Clube, do túnel Antonieta de Barros, do aeroporto, criação do aterro da baía sul e surgimento da indústria pesqueira; que áreas públicas de lazer e de encontro eram utilizadas antigamente e quais são utilizadas hoje; que tipos de serviços existiam e quais existem hoje; como era e como é o espírito de comunidade; como se dava a relação com a praia e como é hoje. Nas respostas dos moradores de longa data, pudemos perder uma certa conformidade com as características atuais do bairro, que sofreram modificações ao longo dos anos. Há um espírito de vizinhança, porém, devido a falta de espaços públicos adequados, a rua torna-se o lugar de encontro. Ao mesmo tempo, existe uma percepção por parte dos moradores de que o bairro está inserido "dentro e fora da cidade", por ser um bairro tranquilo e residencial, mas que está localizado em uma área central, próxima de bairros importantes e repletos de serviços. Não houve grandes reclamações quanto à falta de certos serviços na comunidade, há uma certa conformidade, pois é fácil a locomoção para fora do bairro, tanto de carro quanto por transporte público - o local é bem alimentado por linhas de ônibus. Mesmo com caminhabilidade não adequada e acessibilidade reduzida, houve relatos de que os moradores se locomovem bastante a pé, a fim de encontrar vizinhos ou buscar serviços. Além disso, o grande movimento no bairro se dá nos horários de pico, fazendo com que o trânsito não seja um problema. No restante do dia, o movimento de veículos é bastante pequeno, passando praticamente apenas ônibus, enquanto que o movimento de pedestres é quase nulo, tornando a área "deserta".

Após a construção do túnel Antonieta de Barros e criação do aterro da baía sul, a rua Silva Jardim deixou de ser a principal via de passagem entre o Centro e outros bairros, tornando, desse modo, o trânsito ali
mais escasso. Também por ser um bairro principalmente residencial, ele caracteriza-se como uma área tranquila, segundo os próprios moradores da vizinhança, além de possuir poucos serviços. Em visita
ao local de estudo, reconhecemos diversos lotes, a fim de mapear os usos e áreas potenciais. Notamos uma série de construções e lotes ociosos diferentes entre si. Aqueles com presença da mata,
localizados principalmente próximos ao topo do morro, serão preservados. Aqueles que estiverem desocupados, foram eleitos como terrenos para locação das habitações a serem propostas. Aqueles com construções abandonadas próximos da orla seriam desapropriados a fim de tornar-se áreas públicas que restabeleceriam a relação com a praia. Por fim, algumas construções abandonadas específicas, como o antigo Clube do Penhasco e a construção usada hoje como estacionamento do Hotel Veleiros, seriam pensadas para criar espaços públicos de convivência. Ainda, existe uma antiga fábrica da Coca-cola, onde será instaurada uma escola; o Iate Clube, local potencial para vir a ser uma área pública; e a vila dos pescadores, que deve ser preservada e valorizada. Atrás da vila dos pescadores, antes da entrada do túnel, existe um anel viário que consiste numa área que pode ser muito bem apropriada. Hoje, é uma região que se encontra gentrificada, porém há a possibilidade de se implantar habitações e áreas públicas muito próximas da orla com enorme potencial paisagístico.
Mapa de usos:

Exemplos de área com potencial de intervenção:






Terrenos com potencial construtivo:

A partir do mapeamento, iniciamos um estudo de volumetria das habitações e como elas se relacionam com os locais de inserção, já pensando também em espaços de potencial área pública de lazer e permanência e nos eixos de circulação por todo o bairro. Assim, no estudo de volumes, desenvolvemos um partido e trabalhamos com módulos em áreas do bairro, para que pudéssemos sentir como seria a dinâmica das habitações com os terrenos, concluindo, por fim, que atenderíamos em torno de 160 pessoas.